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terça-feira, 9 de junho de 2015

Amém. Amem - uma reflexão sobre Viviany, a travesti amarrada na cruz durante a parada gay de São Paulo

Amigxs, me considero um cara mega feliz por conseguir manter relações ecléticas em minha vida. Tenho grandes amigos de direita e esquerda, heteros e homossexuais, empregados e desempregados, profissionais e estudantes, da classe A, B, C... Z, grandes amigos ateus, cristãos, não cristãos. Respeito todos, mas isso não significa que não vou me expressar sobre aquilo que defendo. Então, de antemão, peço licença para escrever sobre a travesti e sua cruz. E gostaria de todxs amigos, cristãos ou não, lessem.

Viviany, travesti, seminua, exposta, sangrando cenograficamente, amarrada num cruz, crucificada. Não é um ataque aos cristãos, é um pedido de socorro: a travesti que choca a todos é a que está contracenando inspirada num cara que morreu da mesma maneira em prol dos oprimidos de seu tempo. Tantas outras travestis morreram da mesma forma: braços abertos, mutiladas, atiradas em qualquer mato, morreram espancadas por falta de respeito e de oportunidade, morreram em virtude da violência cotidiana. Tantas travestis e gays morreram e estão morrendo pela soma das violências que sofrem diariamente e durante a sua vida inteira. Morreram e morrerão por culpa da sociedade transfóbica em que são obrigadas a viver. Esses que morrem diariamente crucificadas de verdade, espancadas e mutiladas não são objeto de protesto de pessoas “do bem” que estão ofendidas com a performance da travesti que segue viva e lutando todos os dias para seguir... viva. Mas porque usar a cruz? A cruz que Viviany está amarrada simboliza a homofobia.

Por vezes me questiono e me revolto com a falta de noção que alguns líderes religiosos conservadores usam as histórias da Bíblia como bem entendem; por vezes ignoram partes e supervalorizam outras (convido TODXS a ler o livro Levitico), com o propósito de arrecadação de manipulação. Mas o mais absurdo é ver que aquele homem (real, Jesus existiu!) que estendeu a mão aos excluídos, hoje tem seu nome usado pra excluir. Se Jesus existisse fisicamente nos dias de hoje ele seria um grande amigo dos gays, transexuais, dos torturados pela ditadura, dos escravos, dos negros, das mulheres oprimidas. Seria um ativista. Em sua rede social certamente teria textos de apoio às “minorias”. Acham que isso é bobagem? Pois quem conhece a Bíblia deve lembrar que Jesus Cristo pregava o amor, acima de tudo. Devem lembrar que Jesus Cristo salvou Maria Madalena, UMA PROSTITUTA, do apedrejamento. Jesus, o homem, nos ensinou (àqueles que aprenderam) que todos ser humano peca e que atire a primeira pedra quem nunca pecou. Condene alguém ou algo, atire uma pedra (literalmente ou não), mas antes olhe para o próprio umbigo. Jesus pedia respeito e amor. Como postou um amigo meu, “se olharem de pertinho, a gente [os gays] se parece mais com ele do que vocês [os cristãos]. Nosso amor, assim como o dele, é ato político. É libertador”. Assim como Jesus, defendemos o amor. Queremos amar e ser amados acima de tudo.

Finalizo com parte de um texto de Fábio Chap, compartilhado no Facebook: “quero enfatizar - quase gritar - que Jesus disse ‘AMEM’, e isso é muito, mas muito maior que ‘AMÉM’. Então, peço licença de todos credos e não-credos pra fechar esse texto reproduzindo essa fala tão poderosa desse cara tão maneiro: Amem. Amem pra caralho”.

(Jonas Ferrigolo)

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