Era a distância que mais nos aproximava: não os
poemas, não as cinzas daquele cigarro inacabado. Todo amor exige certo
distanciamento para ser lembrado em qualquer espaço de tempo, em qualquer
pedaço de sentimento. Eu, para te ter, precisei te escrever. Só assim pude
dormir tranquilo todas as noites que estivemos longe um do outro do outro do
outro: sem ouvir o timbre da tua voz tão doce e tão delicada, sem tragar teus
problemas tão doces e confusos, sem estragar teus dias tão delicados e breves.
Só assim consegui domar a angústia que é não poder acariciar teu sorriso
matinal, tua presença tardia e teu gozo noturno. E para não morrer de saudade,
me alimentei das suas ausências: só assim pude digerir a angústia sem passar
mal, sem rancor.
[sem rancor; antônio]
Extraído de https://www.facebook.com/eumechamoantonio/posts/578225125575077
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